Conversa sobre “choque cultural” geralmente vem recheada dos comentários de praxe: mentalidades diferentes, outros valores, intolerância, um monte de coisas abstratas que ficam muito bem em livros, palestras, aulas e discussões mais aprofundadas. Mas na prática, acredito que cada um tem a sua versão particular do que vem a ser isso.
Para mim, o choque cultural mais evidente é sanitário e começa já no aeroporto.
Chega aquele vôo lotado de São Paulo em Frankfurt, os brasileiros desembarcam e não demora muito já se forma uma fila de mulheres no primeiro banheiro que aparece. Chega a sua vez, você entra na cabine apertadinha e vê pedaços de papel higiênico amontoados num cantinho atrás do vaso. Porcaria, descaso? Não. Faltou o lixinho! No Brasil, é normal encontrar avisos na parede, pedindo que o papel não seja jogado no vaso, para evitar entupimentos. O ato de jogar o papel no lixinho é tão natural que é fácil imaginar as brasileiras em Frankfurt, com os jeans pelos joelhos e o papel na mão, sem saber o que fazer com ele.
Para quem já passou muito tempo fora do Brasil, como eu, o choque sanitário acontece às avessas. Primeira visita a um banheiro público e o papel vai direto para o vaso. Descarga dada, a água começa a subir de forma ameaçadora e eu ali, já rezando para a inundação parar antes de começar. Saio da cabine olhando para os lados, me sentindo culpada. O papel ficou lá, nadando em círculos, como prova de que banheiro também é cultura.
Aliás, banheiro é um tema que ainda pode dar muitos posts. Na comunidade de tradutores no orkut houve há tempos uma discussão divertida e instrutiva sobre a importância (ou não) do lixinho. Mas por hoje, fico por aqui.
Você explanou de um modo extremamente simples uma discussão que por si é profunda, complexa e, por vezes, até contraditória.
Grande poder de observação, síntese e comunicação.
Uma pequena fresta nos véus que cobrem os céus de ignorância e intolerância.
Bjs