Você pensa que elas não existem mais, que desde o tempo dos seus bisavós ninguém mais sequer pensa em usá-las. Aí, um belo dia, elas cruzam seu caminho novamente. Foi uma dessas que encontrei outro dia com o André, durante uma feira na Alemanha. Vejam só:
O mais engraçado foi o comentário do André: “Essa palavra é muito goethe.” Mas vamos por partes.
Münzfernsprecher é uma palavra que ainda era muito usada quando botei meus pés na Alemanha pela primeira vez — e isso faz tempo, minha gente. É uma daquelas combinações maravilhosas e extremamente lógicas que o alemão nos permite fazer. Imagine você, longe de casa, querendo falar com alguém lá do outro lado do Atlântico e com umas moedas no bolso. Ora, você precisa de uma geringonça para falar (sprechen) com alguém distante (fern) usando as suas moedas (Münzen), ou seja, um Münzfernsprecher! Muito fácil, não é?
O problema é que, na era dos celulares, lan houses e cartões de crédito, ninguém mais anda atrás de geringonças que funcionam movidas a moedas. E justamente numa feira internacional, onde gente de todo mundo se encontra, seria muito mais fácil achar o que você está procurando se essa coisa se chamasse simplesmente Telefon, pois se até o catálogo telefônico alemão já se chama Telefonbuch. Mas algum engraçadinho achou por bem salvar o que sobrou da língua de Goethe e tascou lá o Münzfernsprecher.
Agora ao comentário do André. Eu não sei se ele quis dizer que os Münzfernsprecher estão tão mortos quanto Goethe, ou se ele achou a palavra poética, ou se ele se referia ao Goethe Institut, salvaguarda da língua alemã. Estávamos trabalhando e não tivemos tempo para falar mais do assunto. Mas o fato é que ele me fez lembrar da professora que me preparou para a prova do GDS do Goethe. Nós exercitávamos redação intensamente e eu tinha um colega americano que sempre reclamava das correções, alegando que ninguém falava assim. Mas a Heidi (juro, era esse o nome dela) dizia que se escrevêssemos assim, teríamos chance de notas melhores. Talvez o meu passado de jornalista tenha me ajudado, mas o fato é que eu me ative aos conselhos dela, como um redator que segue o estilo ditado pelo jornal — não gostava daquilo, mas se era isso que queriam, eu faria direitinho — e passei com a melhor nota. O americano é hoje correspondente do Wall Street Journal. Acho que ele se deu muito melhor.
Fecho dessa vez assinando, já que ainda não descobrimos um jeito de publicar os posts aqui com nosso nome (agradeço qualquer dica). Quem esteve aqui hoje fui eu, a Bete.
Bete, no WordPress é possível criar usuários para cada blog, de modo que cada um pode publicar e “assinar” um artigo sem a interferência do outro. Pelo visto, vocês estão usando a mesma senha para entrar no blog. Então, basta deixar essa senha e usuário como admin e criar outro como author (mas acho que dá para criar mais de um admin). É tudo muito intuitivo e basta fuçar os links da página principal de controle do seu wordpress.
Alguns acham que sou uma pessoa séria, já ouvi até quem dissesse que é difícil tirar uma risada de mim. Mas após ler a pérola “me ative aos conselhos dela […] e passei com a melhor nota. O americano é hoje correspondente do Wall Street Journal. Acho que ele se deu muito melhor.” dei uma gargalhada tão gargalhada que quase caí da cadeira! Muito boa 🙂
Marcos, é por isso que hoje em dia eu acho prova uma coisa muito relativa. Você pode se dar muito bem e ainda ser uma droga de um redator, ou tradutor, ou que-diabos-for. Tudo depende de quem corrige. Sabe que depois disso eu fiquei cismada que estava perdendo minha criatividade, de tanto exercitar o alemão “correto”, e comecei a escrever poemas — em alemão. Cheguei até a publicar dois (não, não vou mostrá-los aqui). Mas eu gosto mais da minha língua, não tem jeito. Nunca vou ter tanta intimidade com o alemão (a não ser, é claro, com o que está lá em casa ;-)).