Fala o André
Esta semana me deparei com uma situação que até o momento só havia ouvido falar por terceiros – “alguém me contou uma vez que tinha um amigo que levou um calote”. E eu pensava “bem, coitado dele, ainda bem que nunca aconteceu comigo…”. Pois bem, esse dia chegou! Chegou a minha vez…
Não tenho como descrever o sentimento. Recebi o e-mail da cliente dizendo os motivos “O senhor entregou o trabalho com alguns dias de atraso”, e eu respondi “mas Frau XXXX, a senhora já sabia dos motivos do atraso quando me passou o trabalho, eu lhe disse que viajaria ao Brasil e estava certo de que não haveria tempo suficiente para entregar a tradução. De mais a mais, lhe disse também que a tradução anterior estava muito mal feita, mandei a lista de erros crassos e levei algum tempo revisando a tradução anterior”. E o pior foi ficar escutando a “dita cuja” no telefone querendo me convencer de que eu estava errado!!!! Que desaforo!!! E depois ainda fiquei com raiva de mim mesmo porque fui idiota o bastante para querer impressionar um novo cliente (era o primeiro trabalho para a tal agência), “achando” que estava fazendo um bom trabalho, adicionando a revisão! Certo estava um chefe holandês que eu tinha e dizia “Quem acha não sabe nada!”.
O pior foi escutar o que a “infeliz” disse quando a avisei que iria acionar meu advogado para ingressar com um processo de cobrança judicial – “Ich freue mich drauf!” (“Não estou nem aí”). Não tenho palavras para explicar o sentimento de impotência no momento…
Já sei que o erro cometido foi não ter escrito e pedido a confirmação do adiamento da data de entrega. Em vez disso, como com tantos outros clientes, com os quais trabalho até hoje e que sempre se portaram com profissionalismo, a conversa ficou só no telefone. Nunca tive problemas nos pouco mais de dez anos que trabalho como tradutor. Na Alemanha, aprendi que a palavra do outro tem muito valor e os alemães me ensinaram a respeitar isso. Pois bem, encontrei a ovelha negra entre eles…
Mas não quero que pensem que calote é algo normal. Como já disse, nunca havia me acontecido antes. E tenho orgulho dos meus clientes, pois sempre me pagaram corretamente.
O meu consolo esta semana veio de alguns artigos escritos pelo Danilo Nogueira no seu blog. Um deles principalmente, que não encontro para citar literalmente no momento, mas cuja essência era essa – “não fique chorando pelo trabalho não pago porque você vai perder um tempo que poderia estar empregando em fazer captação de clientes”.
Assim, segui os conselhos deste profissional. Depois de conversar com uma outra profissional que respeito muito e amiga de muitos anos, a Bete Köninger, me convenci a postar este artigo. Estava mesmo com vergonha de escrever sobre isso, achando que estava errado. Mas meu erro foi querer oferecer um bom trabalho para um cliente que não dá o mínimo valor a isso. E que, quem sabe, talvez já estivesse agindo de má-fé antes mesmo de me mandar o trabalho.
Só posso dizer que estou muito triste por isso tudo e o dinheiro, que não é pouco, vai me fazer falta. Mas espero recebê-lo um dia. Enquanto não o recebo, vou atrás de clientes melhores…
André, e o que se faz quando o calote foi dado por uma advogada? Eu trabalho há mais de 20 anos com traduções e nunca havia me acontecido de alguém não pagar, mesmo com o costume absurdo e ilógico no Brasil de se mandar a conta e depois o cliente deposita o valor. Mas eis que fui ter essa experiência com a dita cuja (bem que tenho vontade de citar o nome, porque ela merecia ficar com o nome sujo na praça; mas vai se saber se ela não iria me processar por calúnia…), que pediu um trabalho urgentíssimo e depois continuou a mandar outros, dizendo que não tinha pressa. Sim, demorei para entregar, mas ela tinha dito que não tinha pressa… Só que o pagamento, dessa vez, nunca foi depositado na minha conta. Ainda bem que isso é exceção! Abraço. Flávia
Oi Flávia!
Não sei qual caso é pior, se o meu ou o seu. Mas levar calote de advogado é demais. Talvez você devesse ver a possibilidade de consultar a OAB e ver se eles têm algum meio para fazer a “dita cuja” te pagar o que deve. Eu vou ter de retornar à Alemanha para assinar os documentos e entrar com o processo de cobrança. Como dizem os nossos conterrâneos, “isso é sujeira…”
Abraços
André