Quando estava bravo, meu pai costumava dizer “estou fulo da vida”. Era a expressão daquela época, fim dos anos 70, começo dos 80. Pois assim estou eu hoje.
Quando fui para a Alemanha, em Janeiro de 1996, ainda não tinha nem ideia do quanto as mulheres eram respeitadas e tinham o seu lugar na sociedade por lá, como continuam sendo e tendo (ainda que algumas amigas alemãs digam que não é bem assim). E devo ser sincero, também aprendi a respeitar mais ainda esse aspecto, pois cresci no meio de mulheres, já que em casa éramos 3 irmãos e a família: eu, minhas 2 irmãs, minha mãe e minha avó (meu pai era viajante e estava sempre fora). E, como se diz em alemão, eu era “o galo no cesto” (“der Hahn im Korb sein” – uma expressão usada para dizer que a pessoa é o único homem entre várias mulheres), sendo bastante bajulado pela minha avó e minha mãe (não preciso dizer o que minhas irmãs achavam disso…). Mas ainda assim me lembro que ajudava em certas tarefas da casa que meus amigos da escola não faziam.
Crescendo assim no meio delas, também aprendi a respeitá-las mais ainda e aprimorei esse respeito nos 13 anos que passei na Alemanha. Quando voltei ao Brasil, vi que muitos aspectos da sociedade tinham melhorado e que outros continuavam como antes. O desrespeito às mulheres é um destes aspectos que continua como antes, salvo algumas exceções.
Explico – minha namorada-esposa está tendo aulas de direção na Auto-Escola para perder o medo de conduzir e poder aproveitar melhor a vida dirigindo por Ribeirão Preto sem ter que depender do transporte público da cidade que, como em qualquer outra cidade brasileira, é muito ruim. Só que o instrutor dela, apesar de ser muito competente e estar conseguindo fazer com que ela perca o medo, não respeita os horários, desmarca as aulas quando bem entende, marca aula e não vem, deixando claro que, como ela é mulher, ela pode esperar e tem de aceitar as suas explicações.
Pois um dia desses, ele faltou, não avisou e quando foi questionado sobre não ter vindo dar aula à ela, deu uma desculpa qualquer e achou que ia ficar por isso mesmo. Ligou no outro dia antes das oito da manhã (!!!!) e queria marcar aula para ela. Eu, muito educadamente, soltei o verbo. Disse-lhe tudo que pensava, sendo interrompido por uns “ah, não é bem assim”, “você está interpretando mal”, “não, eu me enganei sobre o dia” e “mas eu vou repor esses minutos em falta”, entre outras frases com intenção de se desculpar. Depois dessa conversa espero que não aconteça nada mais, pois outro aspecto que tenho constatado é que eles respeitam mais quando um homem fala do outro lado da linha.
A Bete me contou sobre um comercial de cigarros na Alemanha que passava antes de eu botar meus pés por lá e disse que eu devo parecer com o tal homenzinho, HB-Männchen, quando estou nervoso. Pois pareço mesmo, só que me seguro, pois isso de “dar piti” e “fazer barraco” gasta muita energia. Mas é mesmo um absurdo o quanto eles vão desrespeitando e mais, e mais, até que a pessoa fica brava e começa uma discussão, pois não aguenta mais “tanta folgação”.
E aqui começo a falar das exceções que são respeitadas no Brasil, as mulheres que são ouvidas. Costumam ser as tais “barraqueiras” ou aquelas que ficam bravas e não deixam as faltas de respeito passarem despercebidas. Aí os homens latino-americanos começam a tratá-las melhor e suas palavras são ordens. Me lembro da minha irmã que mudou bastante e não permitiu que fizessem isso com ela nunca mais, tornando-se uma “barraqueira”, mas a verdade é que se elas não adotam essa posição, nunca são ouvidas. Há outros meios também, no entanto, tenho constatado que esse é o mais eficaz (para não falar de uma amiga que é delegada e quando a tratam mal, ela sabe muito bem o que fazer). Infelizmente é assim, pois realmente custa muita energia, nervos e mal-estar. É o preço a se pagar para ser respeitada.
Imagino certas amigas alemãs passando uma situação destas. Tenho certeza que elas fariam “picadinho” do sujeito.
Espero que isso mude um dia, enquanto eu ainda esteja neste mundo para poder presenciar.
Vou ficando por aqui.
Abraços do André